Diário de um Pica

Meu lugar secreto onde escrevo e me atrevo,descrevo sentidos,grito em palavras soltando emoçoes

Nome:
Localização: Massama, Sintra, Portugal

Eu sou o escrever que pulsa no meu sangue,sou um corpo de ausencias fugindo com as suas palavras tentando alcançar os sonhos que nunca vivi.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Um olhar



Apanhamos o comboio repleto de embarques e desembarques com salpicos de decepção, surpresas agradáveis e tristezas neutras.
A viagem (vida) faz-se com desafios, sonhos, esperas e despedidas.
Rostos descem as carruagens deixando saudade, outros passam invisíveis. Procuramos amigos, confidentes, noutras carruagens, mas o lugar já está ocupado. E continuamos assim presos no nosso mundo, tão único, tão profundo e tão pequeno.
Rumo ao desconhecido seguimos viagem não temendo o que encontrar porque não tememos o futuro.
A viagem é uma janela aberta de um comboio, á procura da felicidade e da liberdade.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Uma opinião


No outro dia um colega disse que eu era uma criança, que em determinadas circunstâncias parecia um pouco infantil aconselhando-me a agir de acordo com a minha idade, curiosamente não me senti ofendido, muito pelo contrário. Eu gosto de ser infantil, para mim as crianças são como água fresca num dia de verão, mais ainda as pessoas que tenho ajudado a tornarem-se mais “acriançadas” são pessoas que se sentem melhor consigo mesmo e com a vida.
É claro que tenho responsabilidades familiares, financeiras e de trabalho a considerar e não fujo delas.
Um retorno voluntário á infância não significa que desista de ser adulto, significa apenas que devo relaxar um pouco e tirar a máscara de adulto sendo mais espontâneo e apreciar a vida como se fosse a primeira vez.
Recordo-me de uma vez, durante a minha vida militar desencadear na cantina uma desenfreada batalha de ervilhas no fim da qual fui premiado com um fim de semana a lavar tachos e panelas na cozinha. Recordo também de um outro dia em que na formatura da manhã o Sargento de dia, de temperamento nada dócil nem “infantil”, gritando-me aos ouvidos o porquê de não estar em sentido, tendo respondido que eu estava, a farda é que nem por isso. Mais uma vez tachos e panelas, pois naquela altura não existia a moda de flexões (encher) nem pulos de galo.
Recordo agora esses momentos com certa alegria apesar de as consequências de tais actos me terem saído do corpo.
Não me tornei menos Homem por essas graças de Criança.
Na minha modesta opinião penso que não devemos deixar morrer aquele mundo rico de fantasia, pois é um dos aspectos mais saudáveis da nossa vida.
Para não nos tornarmos em adultos frustrados não devemos deixar morrer a criança que existe em nós.

Mas, isto é só uma opinião.
A minha, claro.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Quarenta minutos

Era estranhamente reconfortante sentir o comboio colocar-se em andamento, era uma sensação de mobilidade que me agradava enquanto o sol se esforçava por espreitar entre as nuvens.
Ia fazer uma “corrida” de 40 minutos até ao meu desejado e tão merecido café.
As pessoas entravam no material ansiosas de descanso depois de uma noite de folia e exageros, um grupo de “adolescentes” entre os 12 e 40 anos praguejavam na minha direcção, numa tentativa de adivinhar o meu nome, nunca acertando. “Que burros”; pensei eu, “até trago o nome escrito ao peito”, ironizando comigo mesmo.
Mais um pouco e chego à Damaia, sítio “chique”, com as suas majestosas moradias e os seus jardins de perder de vista, como se fosse um casamento entre a Quinta da Marinha e Vilamoura. Abri a porta e deparei-me com um indivíduo que me mirava, completamente hipnotizado, os olhos raiados de sangue e um sorriso irremediavelmente idiota. Acendeu um “cigarrito” e soprou alguma fumaça enquanto puxava conversa:
–“Tá-se bem ó pica?”, falando lentamente.
-Tudo na maior, respondi eu de forma autoritária.
-Queres uma passa?
-Não amigo, comi doze passas antes da meia-noite, por agora chega. O seu vocabulário era riquíssimo, talvez só superado por um papagaio amestrado e com gripe das aves, pensei eu.
Fez-se um silêncio perturbador, tentou colocar os seus neurónios a funcionar,
-“Iá, tá-se bem”, conheces o Geigei?, perguntou apontando para o seu “lulu”. O animal tinha os maxilares cerrados e os olhos apertados. Confesso que senti o coração a bater mais depressa, afinal o “lulu” era um Pit Bull e não parecia nada simpático.
Fechei a porta com alívio e segui viagem, nesse momento um pensamento macabro atravessou-me o pensamento, imaginava o Gegei a brincar com o dono, roendo-lhe as pernas até ao osso.
Tinha as emoções divididas entre o cómico e o decadente, ainda assim tive pena do cão, não pode escolher o dono.
Mais adiante, o meu imaginário é interrompido, desta vez por uma velhinha de cabelo grisalho:
-Posso lhe dizer um segredo?
-Claro, respondi eu com alguma relutância.
-A única solução é mandar os Americanos clonarem o Salazar, disse franzindo a testa.
Foi demais, não aguentei e soltei uma gargalhada estridente, desejando um bom ano à sábia velhinha e seguindo o meu caminho.
Depois de vencidos alguns obstáculos, com algumas gargalhadas à mistura eis que chego a Sintra, a minha terra prometida o meu oásis, finalmente estava em porto seguro, pensei “vou beber o meu café”, mais uma frustração, “porra, hoje é Domingo, está tudo fechado…”

Até à próxima amigos.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O primeiro dia de 2006

-Vamos lá?
Questionando ao colega o óbvio. Ele respondia afirmativamente, enquanto fazia os ensaios à motora como se fosse um prolongamento do seu corpo, no meio de ferozes sopros e apitos, parecia que estava a castigá-la.
São 6.00H da manhã do primeiro dia do ano. Apesar de conhecer o Dani há alguns anos contavam-se pelos dedos de uma mão as horas de conversa que tínhamos travado. O trabalho assim o exigia. Cada um para seu lado, apesar de sermos a única tripulação daquele comboio.
É um amigo, um colega, um estranho. Assim é mais fácil conversar, apenas ouvem e é bom ser ouvido – pensei eu.
Curioso como as nossas conversas de ocasião criavam-nos uma ilusão simpática de intimidade. A culpa talvez fosse do trabalho solitário – resmungava eu com os meus botões – mas não me rendo, tenho que a tornear e até enganá-la.
Lá estávamos sozinhos no meio da multidão.
-Está no ir?- , perguntou ele entre um sussurro e um bocejo.
-Vamos, disparei eu.
As nuvens cinzentas atrasavam o romper do dia, deixando uma escuridão percorrer as carruagens sem ninguém.
A chuva batia em bátegas questionando-me o porquê de chover sempre aos Domingos.
As garrafas de Whisky vazias dançavam à medida que o comboio deslizava entre os carris, como que dando-me as boas vindas a 2006.
Sustive a respiração, como se fosse para um ringue, fechei a porta da cabine de condução, ainda ouvindo o maquinista:
- tem cuidado que isto hoje não está para brincadeira.
- Eu sei Dani, é preciso é calma, respondi eu como se fosse solução para tudo, - e já agora leva dinheiro trocado para o café, tentando quebrar o gelo.
Adivinhavam-se conflitos, ia pedir uma coisa proibitiva para a maior parte deles, “os bilhetes”, talvez até tivesse sorte e no meio de tanta “gente” fosse possível encontrar “pessoas”.
Tinha sido uma noite de excessos e era definitivamente uma manhã vadia.