Senhor ninguém
Naquela noite fria de luar. O “senhor ninguém” como usualmente lhe chamavam, tentou aconchegar-se o melhor possível naquela caixa de papelão, que com toda a certeza não tinha o seu tamanho. Era ali que dormia habitualmente...
Com apenas um cobertor que alguém, lhe tinha dado para sentir menos frio nos tristes dias de Inverno. Mas não era só o dia que ia escurecendo, também na sua alma, no seu coração já não havia senão escuridão...
Uma escuridão causada por todos os anos que já estava sozinho...uma solidão não temporária, como às vezes sentimos, mas sim permanente...já tinha deixado de contar aqueles anos há muito tempo...
Sabia somente que eram muitos...
Já não sonhava, não pensava no futuro, não tinha desejos ou planos...
A escuridão penetrava na calçada da rua.
Cresciam apenas sombras naquela parte da cidade.
A noite era senhora, os humanos dormiam sossegados, no aconchego da cama.Enegrecido na alma lutava na escuridão das lágrimas e sussurrava gemidos silenciosos.
O olhar penetrante olhava o vazio.Um aroma a mistério fortalecia aquele instante.
A lua estava protegida por um véu de nevoeiro.
Aquela noite era mais uma batalha.
Aquela pessoa não vivia, apenas limitava-se a respirar...